1,5 milhões de obesos em Portugal
1,5 milhões de obesos em Portugal: DGS quer consultas nos centros de saúde
Mais de metade da população adulta do país (53,6%) tem excesso de peso e o número tem vindo a subir nos últimos anos. A obesidade afeta já 1,5 milhões de portugueses e a Direção-Geral da Saúde (DGS) quer criar consultas de pré-obesidade nos cuidados de saúde primários. Os hábitos alimentares inadequados continuam no top 5 dos fatores que mais contribuem para a perda de anos de vida saudável pelos portugueses.
Estes dados integram o estudo Global Burden Disease de 2019 e são apresentados pela primeira vez no relatório anual do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS), que é hoje publicado pela DGS.
“Ainda continuamos com uma tendência crescente de obesidade na população adulta”, diz Maria João Gregório, diretora do PNPAS, que assume que esse, a par da pandemia, “é um dos maiores desafios que enfrentamos neste momento” e “um grave problema de saúde pública”. A proporção de utentes com registos de pré-obesidade e obesidade nos cuidados de saúde primários atingiu os 16,7% e os 11,9% nacional em 2019.
A DGS quer criar consultas de pré-obesidade nos cuidados de saúde primários e lançar um modelo de aconselhamento breve para a área da alimentação saudável. “É uma área em que vamos apostar fortemente no futuro”, revela Maria João, que não adianta quando é que vão avançar projetos-piloto para testar o formato. “O objetivo é promover que a avaliação peso-altura seja feita de forma generalizada a todas as pessoas que se dirijam aos cuidados de saúde primários para identificar precocemente a pré-obesidade e permitir que a pessoa tenha acesso a um plano de cuidados que a oriente para a modificação de estilos de vida”.
Para já, o que vai avançar a breve trecho é “o modelo de aconselhamento breve” nos centros de saúde que passa por “dotar os médicos de medicina geral e familiar de ferramentas para melhorar o aconselhamento, a abordagem ao tema e a motivação para a mudança”. “Os médicos sentem necessidade de ter mais informação e isto passa por capacitar para intervir nesta área”, explica.
Obesidade infantil desce
Por contraponto à população adulta, o excesso de peso e a obesidade infantil está a cair. De 2008 para 2019, verificou-se uma redução de 22% tanto na prevalência de excesso peso infantil (37,9% para 29,6%), como na obesidade infantil (15,3% para 12,0%). “Algumas metas para 2020 foram atingidas e esta é uma delas. É um dos ganhos mais significativos que conseguimos nos últimos anos”.
Para isso, explica, contribuíram políticas públicas cujo impacto foi analisado no relatório hoje divulgado, nomeadamente a regulação da publicidade alimentar dirigida a menores de 16 anos, o imposto especial sobre bebidas açucaradas e a reformulação da oferta alimentar em contexto escolar. “Em relação à publicidade, ainda só passou um ano, mas já estamos bastante melhor do que em 2008, houve de facto uma diminuição da publicidade a alimentos”. Nos canais televisivos dirigidos ao público infantil já não existe e nos canais generalistas há 10,4% de anúncios a alimentos, quando em 2008 eram 27%. Destes 10,4%, 18,6% ainda têm conteúdo dirigido a crianças e a grande maioria dos alimentos publicitados não cumpre o perfil nutricional definido pela DGS. “Somos dos poucos países europeus que tem uma lei que restringe a publicidade nesta área”.
Quanto ao imposto sobre bebidas açucaradas, isso levou a uma redução média de 17% do teor de açúcar nestas bebidas e também a uma redução do consumo em 15%. No ano passado, o imposto foi revisto e passou a ter novos escalões, penalizando mais ainda produtos com elevado nível de teor de açúcar.
Perda de anos de vida
Apesar dos ganhos, os hábitos alimentares inadequados ainda são um dos cinco fatores que mais contribui para a perda de anos de vida saudável em Portugal, de acordo com o estudo Global Burden of Disease. O elevado consumo de carne vermelha e de sal e o baixo consumo de cereais integrais, leguminosas e fruta são os principais erros na alimentação dos portugueses. E estão na origem de muitas doenças do aparelho circulatório, diabetes e doenças renais. Outros fatores de risco são a hipertensão arterial, o índice de massa corporal elevado, consumo de álcool e colesterol alto.
Este não é um dado novo e segundo Maria João Gregório “só mostra o impacto que estes hábitos inadequados têm na nossa saúde” e que são “importantes determinantes na carga de doença atual”. Ainda assim, a diretora do PNPAS sublinha um aumento da adesão à dieta mediterrânica, “um modelo de consumo alimentar protetor da nossa saúde”. Desde 2016, houve um crescimento de 17% de pessoas a aderir a esta dieta, com as mulheres a destacarem-se.
Fonte: JN



